"Aqui não vai valer o voto de influência do pai, da mãe, do neto, do filho”, disse o presidente da Casa, Renan Calheiros, após sair de reunião com líderes
Por: Laryssa Borges e Eduardo Gonçalves, de Brasília
Presidente Dilma Rousseff, durante entrevista
coletiva no Palácio do Planalto, em Brasília (DF) - 19/04/2016(Evaristo
Sá/AFP)
Poucas horas depois de anunciar que a instalação da
comissão processante do impeachment, responsável por elaborar um parecer sobre
o processo de deposição da petista, seria consolidada na próxima terça-feira,
26, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), voltou atrás e
confirmou, em plenário, que o colegiado será oficialmente formado na
segunda-feira, a partir das 4 da tarde. A mudança de postura foi motivada por
um questionamento do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Na tarde de ontem, o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), encaminhou ao Senado a denúncia
contra a presidente Dilma Rousseff por crime de responsabilidade.
Nas discussões sobre o trâmite do processo de
impeachment no Senado, Renan Calheiros defendeu regras claras para que o tema não
se prolongue de forma demasiada, nem seja concluído a toque de caixa, como no
caso de Fernando Collor de Mello, em 1992. "Não podemos repetir erros do
passado e transformar o impeachment em um bolero de Ravel, que não termina
nunca, ou fazer como em 1992, quando [o processo foi concluído] no mesmo
dia", disse. E emendou anunciando que pedirá que o presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, presida as sessões do Senado logo
após a admissibilidade do processo de impeachment, etapa em que, se confirmada
por maioria simples dos senadores, a presidente Dilma será afastada de suas
funções pelo período máximo de 180 dias.
Para evitar que caiba a ele a solução da provável
avalanche de questionamentos regimentais e com possíveis desdobramentos na
Justiça, Renan Calheiros informou que "a partir da admissibilidade, se for
o caso, vou transferir a presidência do Senado Federal ao presidente do Supremo
Tribunal Federal". "Até a sessão que vai votar a admissibilidade ou a
inadmissibilidade, as questões serão resolvidas pelo presidente [do Senado]. A
partir disso, com a chegada do presidente do STF para presidir a sessão do
impeachment, todas as questões de ordem, que serão muitas, serão decididas pelo
presidente do STF", disse.
Na tarde de hoje, o processo de impeachment contra
a presidente foi lido em plenário pouco antes das 17 horas. A partir de agora e
até sexta-feira, blocos partidários devem apresentar os nomes que deverão
compor a comissão especial. Esse colegiado, composto de 21 senadores titulares
e 21 senadores suplentes, será formado na seguinte proporção: cinco vagas para
o PMDB, quatro vagas para o bloco PSDB-DEM-PV, quatro vagas para PT-PDT, três
vagas para PSB-PPS-PCdoB-Rede, duas vagas para PR-PTB-PSC-PRB-PTC e três vagas
para PP-PSD. Até agora, o bloco PSDB, DEM e PV indicou os senadores Ronaldo
Caiado (DEM-GO), Antonio Anastasia (PSDB-MG), Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP)
e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) para compor a comissão como membros titulares. O
bloco PTB-PR-PSC-PRB-PTC indicou os senadores Wellington Fagundes (PR-MT) e
Zezé Perrella (PTB-MG), e o bloco formado por PSB-PPS-PCdoB-Rede apresentou os
nomes de Romário (PSB-RJ) e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) como membros
titulares e Roberto Rocha (PSB-MA) e Cristovam Buarque (PPS-DF) como suplentes.
Também entre os suplentes já foram indicados Paulo Bauer (PSDB-SC), Tasso
Jereissati (PSDB-CE), Ricardo Ferraço (PSDB-ES), Davi Alcolumbre (DEM-AP),
Eduardo Amorim (PSC-SE) e Magno Malta (PR-ES).
Para esticar a corda e ganhar fôlego, o PT avisou
que vai utilizar todo o prazo de 48 horas, ou seja, até o final de sexta-feira
por causa do feriado de quinta, para indicar os integrantes de seu bloco. Se no
limite algum partido se recusar a indicar integrantes para a comissão
processante, caberá a Renan fazer as indicações.
Presidente do PMDB e principal defensor do vice
Michel Temer no Senado, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) criticou a decisão do
PT de tentar usar todo o prazo disponível - 48 horas - para indicar os membros
da comissão. "Eles que respondam à sociedade [pela demora]", afirmou.
Apesar de discordar, ele ponderou que é melhor esperar agora do que ter o
processo barrado na Justiça depois.
O líder do governo no Senado, Paulo Rocha (PT-PA),
rebateu as críticas da oposição de que o partido pretende protelar o caso.
"A leitura da questão de regimento é feita segundo os interesses
políticos. Nós vamos usar os últimos minutos de até 48 horas. Aqui ninguém quer
procrastinar. A oposição quer atropelar, e nós não vamos deixar", disse o
petista.
Comissão - Com
a eleição da comissão processante do impeachment, em chapa única, na
segunda-feira, está aberto o caminho para que o colegiado já se reúna para a
eleição do presidente e do relator. Nessa etapa, mais impasse: o PT quer o
cargo de presidente para poder controlar o andamento dos trabalhos, forçar que
sejam ouvidos novamente o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, e os
juristas que apresentaram o pedido de impeachment e, com isso, arrastar o
trabalho da comissão por todo o prazo de até dez dias úteis. O PMDB também
exige controlar um dos postos-chave por ser a maior bancada. O PP está na
disputa com a indicação da senadora Ana Amélia de Lemos (RS) para a relatoria.
O PSDB, por fim, negocia emplacar o mineiro Antonio Anastasia na presidência.
A comissão processante dita o ritmo da instrução
processual, dá o parecer sobre a admissibilidade do processo de impeachment e
tem prazo de até dez dias úteis para concluir essa etapa do processo. No
processo de impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992, a comissão se
reuniu, elaborou o parecer e votou o texto contra o então presidente no mesmo
dia.
Ontem o presidente do Senado, Renan Calheiros, se
reuniu com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, para
discutir o rito do processo de impeachment no Senado. Hoje, voltou a afirmar
que "o papel constitucional do Senado Federal é julgar se há ou não há
crime de responsabilidade". "Aqui não vai valer o voto de influência
do pai, da mãe, do neto, do filho", disse. "O processo por si só é
muito tumultuado", resumiu. O senador Eunício Oliveira (PMDB-CE)
corroborou a questão: "No Senado, não vai ter voto para mamãe, papai e
titia. Seremos o Ministério Público e os juízes e faremos um debate com
seriedade e serenidade".
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